CASA DE LEI:
EXU
Na Umbanda, os Exus compõem uma Linha de Trabalho à
Esquerda. São espíritos humanos que tiveram várias encarnações, cometendo erros
e acertos, como todo ser humano, mas com um diferencial: se conscientizaram e
retomaram o caminho da Lei Divina, obtendo permissão para se assentarem à
Esquerda dos Orixás e trabalharem no auxílio à nossa evolução.
Os Exus atuam como Guardiões da Lei Maior. Absorvem e
esgotam as negatividades dos seres que se desviaram das Leis do Criador, em
qualquer dos Sete Sentidos da Vida; depois, vitalizam as qualidades positivas
deles e então os neutralizam, deixando seus magnetismos aptos a que retomem o
caminho da evolução.
Todas as Linhas da Umbanda são amparadas por um
Mistério Divino e por um Orixá. Exemplos: os Caboclos manifestam o Mistério
Caboclo, sustentado por Pai Oxóssi; Os Pretos-Velhos manifestam o Mistério
Ancião, sustentado pelos Orixás Obaluayê e Nanã. O mesmo acontece com os Exus.
O Orixá que dá sustentação ao Mistério Exu e às
Entidades Exus é o Orixá Exu. Na Umbanda, este Orixá não é cultuado
diretamente. Mas está presente e atuante, pois as Divindades existem e estão
presentes em nossas vidas, ainda que alguém não as reconheça. Por exemplo: quer
se reconheça ou não que Oxalá e Oxum são Orixás, Eles continuam existindo e
atuando na Criação. O mesmo acontece em relação aos demais Orixás, inclusive ao
Orixá Exu.
O Orixá Exu recebeu na Umbanda uma Linha à Esquerda,
na qual se apresentam os espíritos Exus, que recebem este nome porque trabalham
na Força, no Poder e no Mistério do Orixá Exu e o manifestam entre nós quando
dão consultas, passes, fazem descarregos, cortam magias negativas etc. Quando
uma Entidade trabalha na Força, no Poder e no Mistério de determinado Orixá,
então as Qualidades desse Orixá se manifestam por meio dela.
Os Exus recebem oferendas nos respectivos campos de
atuação: matas, rios, lagoas, à beira-mar, cemitérios, caminhos, encruzilhadas,
pedreiras etc. Existem Exus trabalhando na Irradiação de todos os Orixás e os
seus nomes simbólicos indicam o campo de ação de cada um e onde deve ser
oferendado. Exemplos: Exu das Matas- Irradiação de Pai Oxóssi- recebe oferenda
nas matas; Exu Caveira- Irradiação de Pai Omolu- recebe oferenda no cemitério,
num ponto à esquerda no Cruzeiro; Exu do Lago- Irradiação de Mãe Nanã- recebe
oferenda nos lagos e lagoas; Exu Porteira- Irradiação de Pai Obaluayê (porteira
é portal, é passagem)- recebe oferenda à direita do Cruzeiro do cemitério; Exu
do Mar- Irradiação de Mãe Yemanjá- recebe oferenda à beira-mar; etc.
A origem do Orixá Exu enquanto Divindade está em Deus.
Todas as Divindades provêm de Deus. Mas em termos culturais, sabemos que o
culto de Orixás vem da África, especificamente dos povos Nagôs, de língua
Iorubá. Logo, a origem cultural do Orixá Exu também é Nagô-Iorubá.
Na África, o culto ao Orixá Exu é ancestral e milenar.
Curiosamente, aparece em todas as regiões daquele continente, de forma que não
há como saber em qual região africana esse culto começou. Ao contrário
dos demais Orixás, que eram cultuados nessa ou naquela região (daí o nome Culto
de Nação), o Orixá Exu aparece em todas as regiões da África. Dentro da visão
umbandista, isto tem uma razão de ser. Os Exus que trabalham na Umbanda atuam
nos Sete Sentidos da Vida, ou seja, atuam nos campos de todos os Orixás. E
dizemos: Exu é o dono das encruzilhadas, o que é fato.
Mas o que é uma encruzilhada?
Encruzilhada é o encontro de duas realidades, de duas
verdades diferentes, tais como: matéria/astral; razão/emoção; luz/trevas;
ou, literalmente, pode ser o encontro de dois caminhos. Esta é a representação
do ponto de força de Exu. Exu está em todos os caminhos, em todos os lugares e
passagens, e não apenas na encruzilhada de rua, de terra, ou de mata. Todos os
pontos que marcam a entrada e a saída de uma realidade são pontos de firmeza e
de manifestação de Exu.
Outra maneira, talvez, de se entender isso é lembrar
que Exu é Guardião da Lei Maior e que trabalha na Lei e pela Lei regida por Pai
Ogum, o Senhor de todos os Caminhos.
Na África não se cultuava a Entidade Exu, como ocorre
na Umbanda. Lá, Exu é um Orixá “mensageiro” que leva os pedidos das pessoas aos
outros Orixás e traz as respostas; é a grande “boca” pela qual os outros Orixás
falam com os homens; é o primeiro a receber oferendas, a ser servido e
despachado, para recolher as negatividades e levar embora os problemas e
perturbações. Tem culto e oferendas específicos e também seus sacerdotes (os
“Omo-Exu” = filhos de Exu), que o tratam com o mesmo respeito dedicado aos
demais Orixás. É respeitado como Orixá, e não como espírito.
Já na Umbanda não é comum o culto ao Orixá Exu e Sua
presença entre nós se faz por intermédio das Entidades Exus, que são os
manifestadores do Seu Mistério.
Existem aspectos na atuação de Exu que nem sempre são
bem interpretados:
Exu lida com aspectos positivos e negativos da
Criação. Exu rege sobre a dualidade; o que acarreta uma dificuldade na
compreensão do Mistério Exu.
Pois Exu atua no Alto, no Embaixo, na Direita e na
Esquerda, guardando e mantendo a Lei e a Ordem na Criação. No Embaixo, é bom
lembrar que Exu é quem leva Luz às trevas; um Exu de Umbanda NÃO é “das”
trevas!
Exu é ativo, mas também passivo e neutro. Exu guarda a
quem faz por merecer o amparo da Lei Divina (atuação passiva). Mas também
intervém como Executor da Lei contra quem viola as Leis do Criador, para
esgotar suas negatividades (atuação ativa). Quando elas forem esgotadas, Exu
vitaliza as qualidades positivas do ser (atuação ativa), para então
neutralizar-lhe o magnetismo. A partir daí, aquele ser tem como recomeçar o
trabalho evolutivo que a cada um compete.
Exu não ataca a ninguém. Exu só intervém por um
comando da Lei Maior, ou quando é ativado magisticamente. Nos trabalhos
religiosos de Umbanda, também a atuação de Exu é sempre delimitada pela Lei
Divina, é sempre para o Bem.
Pela sua dualidade, o Mistério Exu é muitas vezes
interpretado de forma negativa.
A interpretação negativa (“demonização”) do Mistério
Exu é antiga. Remonta à época da colonização das Américas, quando os europeus
iam à África para comprar escravos e lá encontraram uma cultura muito diferente
da sua, passando a interpretá-la com base em seus próprios valores e crenças.
E a primeira demonização de Exu foi feita principalmente
pelos Padres católicos, conforme relatos registrados por Pierre Verger nos seus
livros “Orixás” (Editora Currupio) e “Notas sobre o Culto de Orixás e Voduns”
(Editora Edusp). Para a Igreja Católica da época (séculos XIV a XVII), nenhuma
religião, além do Catolicismo, era válida. As outras religiões “não eram de
Deus”; logo, suas Divindades também “não eram de Deus”, então só poderiam ser
“demônios”...
Para o modelo judaico-cristão do que é religião e do
que é o Sagrado, era muito difícil compreender aquela cultura na qual as pessoas
não usavam roupas, o sexo não era considerado profano, não existia pecado
original, os órgãos sexuais não tinham de ser escondidos etc.; e onde o Orixá
Exu representava, entre outras coisas, a virilidade masculina, tendo como um de
seus símbolos o órgão sexual masculino.
Além disso, na cultura Africana as lendas mostram Exu
com um comportamento muito próximo do nosso: ora alegre, ora nervoso,
irreverente, irrequieto; ora protegendo as pessoas nas guerras e lutas, ora
fazendo emboscadas etc. Exu é mostrado como o mais “humano” dos Orixás; e o
símbolo fálico representava a virilidade, a força masculina, o poder e o
Mistério do Orixá Exu, a vitalidade ou vigor que é preciso para se fazer as
coisas, não tendo conotação sexual e muito menos “pecaminosa”. Mas para a
Igreja Católica da época o sexo era algo pecaminoso, o corpo humano deveria ser
coberto etc.; e, portanto, Exu só poderia ser “um demônio”...
O Orixá Exu é uma Divindade de Deus. Logo, NÃO é
perigoso, vingativo ou coisa semelhante. Enquanto Divindade de Deus, quando nos
relacionamos com Ele de forma bem intencionada o que resulta é uma ação
positiva, sempre. Só temos de tomar cuidado se estivermos mal intencionados,
pretendendo prejudicar alguém, achando que podemos “manipular” um Mistério de
Deus! Alguém pensaria em ativar de forma negativa o Orixá Oxalá? Ou Oxum? Ou
Yemanjá; etc.? Ou em fazer isso com seus Caboclos, Pretos Velhos, Crianças e
demais Linhas de Trabalho? Claro que não! Pois com o Orixá Exu e as Entidades
Exus acontece a mesma coisa!
Podemos nos relacionar com o Orixá Exu, acender uma
vela e pedir ajuda numa determinada situação, oferecer flores e ervas etc.,
pois se trata de uma Divindade de Deus.
O local correto para se firmar velas para Exu é
separado de onde acendemos velas para os 14 Orixás, porque a função destes
últimos é irradiar, enquanto a de Exu é absorver.
Fazemos firmezas para Exu (Orixá ou
Entidade) no quintal, na varanda, na lavanderia, ou seja, em locais externos.
Por quê? Porque o Orixá Exu e as Entidades Exus guardam “o lado de fora” da
Criação, cercam a Criação para protegê-la. Quando estamos em nossa casa, ela de
certo modo representa o nosso corpo, é um abrigo que precisa ser guardado “por
fora”, para impedir que algo externo nos atinja. No Terreiro acontece o mesmo;
assim como em qualquer ambiente que estejamos. E o Orixá Exu, por intermédio
das Entidades Exus, faz esse papel de Guardião da Lei Divina, para refrear
ataques negativos injustos. Não se firma Exu junto com os 14 Orixás e as
Entidades da Direita por este motivo; e não porque Exu “não possa estar no
mesmo ambiente”. A questão envolve unicamente as funções específicas de cada
Orixá e Linha.
Por qual motivo Exu é o primeiro a receber oferendas?
Nos livros “Lendas da Criação” e “Orixá Exu”, ambos de
Rubens Saraceni, pela Editora Madras, encontramos uma explicação do porquê de
Exu ser o primeiro a receber oferendas:
Vamos imaginar um momento anterior à Criação.
No Princípio, a Idéia da Criação existia apenas “no
íntimo” do Criador. (Ou, como está na Bíblia: “No Princípio era o Verbo, e o
Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”.) Deus ainda não havia
“exteriorizado” a Criação. Tudo existia apenas no Íntimo do Criador. Em torno
da morada interior do Criador só existia “o Vazio”.
Então, desde o Princípio, esse “Vazio” cerca e protege
toda a Criação. E Exu é o Orixá Regente do Vazio. Tudo quanto seria construído
por Olorum iria ocupar esse Vazio e dependeria da concordância de Exu. Então,
os Orixás deram a primazia a Exu, pois do contrário nada poderiam
construir.
Num segundo momento, e para receber a Criação que
Olorum iria exteriorizar, foi criado o Espaço, este regido por Oxalá, o Senhor
das Formas. E Oxalá só pôde criar o Espaço com a concordância de Exu, pois o
Espaço foi criado em cima dos domínios de Exu.
Só depois da criação do Espaço por Oxalá, em cima do Vazio
de Exu, é que tudo pôde ser criado, inclusive a humanidade. E é por isso que
Exu deve ser o primeiro a receber oferendas.
Não importa quem foi o primeiro Orixá a ser criado, porque
todos são atemporais e pré-existiam em Olorum. Mas o Vazio é anterior a tudo.
Exu guarda e protege tudo o que cerca a Criação. Quem não
respeita os seus domínios não respeita o Sagrado. E para entrar no Sagrado,
primeiro passamos por Exu. Daí que Exu é o primeiro a receber oferendas. Este é
o significado.
Outras atuações de Exu:
O Orixá Exu também rege sobre o mistério relativo à
reprodução, ao órgão genital masculino e ao vigor sexual. Uma das suas
representações é um cetro fálico, simbolizando o vigor e a vitalidade de que
necessitamos em todos os campos e sentidos, e não apenas no campo sexual.
Outro dos mistérios de Exu são as cabaças, que simbolizam o
útero e o poder procriador feminino. Exu rege o Mistério da sexualidade
masculina e guarda o Mistério da sexualidade feminina.
Os seres Exu de natureza Divina têm suas hierarquias de
seres Exu Naturais e estes, por sua vez, têm suas hierarquias de seres
espirituais “exunizados”.
Os espíritos “exunizados” são aqueles que desenvolveram no
seu íntimo uma afinidade com o Mistério Exu e nele se iniciaram, tornando-se
seus manifestadores espirituais; ou são os que se negativaram a tal ponto, que
foram tragados pelo Vazio de Exu, quando perderam o direito à Plenitude de
Oxalá.
O arquétipo de Exu:
Quando incorporam, os Exus são alegres, falantes,
galhofeiros, sarcásticos, irônicos. Tudo isso faz parte do arquétipo marcante
que assumiram na Umbanda.
Sempre estão dispostos a ajudar a quem os procura.
Manipulam bebidas e um bom charuto, além de serem servidos
com farofas apimentadas com carnes ou miúdos de frangos.
São espíritos “bem terra” e atuam com grande poder de
realização nos casos de magias negativas, de relacionamentos e de assuntos
profissionais.
Seus nomes variam desde nomes dados a pessoas (exemplo: João
Caveira) até nomes indígenas (exemplos: Marabá, Jibóia, Arranca-Toco,
Marambaia, Cipó, Folha Seca etc.).
Exu e o médium:
Cada médium tem um Exu Guardião e um Exu de Trabalho.
O Exu Guardião é ligado ao Orixá Ancestral do médium e
o Exu de Trabalho é ligado ao seu Orixá Adjunto, ao Guia Chefe ou ao Mentor dos
seus trabalhos.
Médiuns mal orientados ou mal doutrinados dão vazão
aos seus recalques ou sentimentos íntimos negativos. Neste caso, o seu Exu
torna-se grosseiro, chulo, desrespeitoso, revelando o íntimo do médium. Já com
médiuns bem doutrinados e preparados, Exu “continua sendo Exu”, mas se
apresenta de uma forma agradável e respeitosa.
Exu mostra o íntimo do médium, como se fosse um espelho, e
por isso se diz que Exu é especular.
No campo da Física, a “reflexão especular” ocorre
quando a luz incide sobre uma superfície bastante polida (lisa), sendo que a
imagem refletida tem forma igual à do original. Um espelho é uma superfície
muito lisa e permite alto índice de reflexão da luz que incide sobre ele, de
modo que reflete imagens com muita nitidez.
No caso Exu/médium, Exu é “o espelho” que mostra a imagem do
que está escondido no íntimo do médium desequilibrado, para que este possa ser
alertado e venha a corrigir-se. E, nesse processo, Exu é também “a Luz Divina
incidindo”, para viabilizar o trabalho de correção dos sentimentos e
comportamentos humanos negativos. Afinal, Exu leva a Luz às Trevas,
principalmente às nossas trevas interiores!...
Saudação para o Orixá Exu:
LAROYÊ, EXU! EXU
MODJUBÁ! (alguns dizem: Exu Mojubá).
Na Umbanda, esta saudação (que é feita para o Orixá Exu) se
tornou a saudação para a Entidade Exu (e também para Pombagira e Exu Mirim).
Tudo o que se refere ao Orixá Exu também serve para a
Entidade Exu. Daí a importância de se estudar o Orixá Exu na cultura Nagô-Iorubá.
FONTES DOUTRINÁRIAS: “OS ARQUÉTIPOS DA UMBANDA”, “Orixá Exu”
e “Lendas da Criação”, livros de Rubens Saraceni, pela Editora Madras; Curso
presencial de Exu ministrado por Alexandre Cumino, no Colégio Pena Branca/SP.
Nomes simbólicos:
Sete Porteiras, João Caveira,
Tatá Caveira, Tranca Ruas, Marabô, Veludo, Sete Encruzilhadas, Sete da Lira,
Marabá, Jibóia, Arranca-Toco, Marambaia, Cipó, Folha Seca, Gato, Morcego,
Calunga, Sete Coroas, Capa Preta etc.
Dia da semana:
Não há um dia exclusivo, pois o campo
de atuação de Exu é muito vasto. A designação de um dia específico varia de
Terreiro para Terreiro e pode estar relacionada ao Orixá que rege o campo de
atuação da Entidade da Casa.
Campo de atuação:
Exu atua nos Sete Sentidos da
Vida, absorvendo negatividades, vitalizando e neutralizando as energias dos
seres e ambientes (limpa, vitaliza e equilibra); corta demandas; alguns são
curadores. Também atua no campo da reprodução e da sexualidade, absorvendo os
desequilíbrios e esgotando os vícios dos seres que se negativaram neste
aspecto.
Ponto de Força:
No geral, as encruzilhadas. No
específico, o ponto de força do Orixá que rege mais diretamente a sua atuação.
Saudação:
Laroyê, Exu! Exu Modjubá! (Significado:
Laroyê, Exu= Olhe por mim, Exu; Modjubá= Você é grande, eu me curvo perante a
sua grandeza. O costume é fazer a saudação e bater palmas com os dedos da mão
direita sobre o meio da palma da mão esquerda, numa sequência de três. Bate-se
três vezes; três vezes; três vezes.)
Cor:
Preto e vermelho (bicolor) ou apenas
preto.
Velas para Exu:
Branca, preta e vermelha (pode ser em
triângulo); ou bicolor preta e vermelha; ou apenas preta. A vela preta
significa a capacidade de absorver, que Exu tem. A vermelha significa a
vitalização que Exu realiza. A branca representa Deus e os Orixás e a
neutralização que Exu realiza depois de absorver as negatividades e nos
vitalizar.
Elementos de trabalho:
Alguidar onde se colocam
elementos, tais como: pedaços de ferro e/ou de aço, terra preta, areia escura,
pedras pretas, fitas pretas, pembas pretas, osso, moedas, punhal sem corte,
búzios escuros, raízes secas, tridentes, correntes de aço, pedras de brita,
pedaços de bambu seco, carvão.
Ervas:
Casca de alho, casca de cebola, açoita
cavalo, dandá, pinhão roxo, valeriana, sementes de olho de cabra, sementes olho
de boi, garra de Exu (garra “do diabo”), raízes e folhas secas, carapiá,
gengibre, bambu seco, pimentas, folha de pitanga, folha de mamona.
Frutas:
Manga, figo, abacaxi, limão,
laranja ácida; as frutas ácidas e as escuras em geral.
Bebidas:
Suco de abacaxi, de manga ou de limão;
caldo de cana com aguardente; cachaça branca; cachaça amarela; vinagre branco;
vinagre tinto; uísque; conhaque de gengibre.
Sementes:
Olho de cabra, olho de boi.
Alimentos:
Farofa, carnes e pimenta, cebola,
alho, frutas.
Incenso:
Alecrim; sete ervas.
Fumo/defumação:
Charutos; cigarrilhas escuras;
pedaços ou lascas de fumo de rolo; fumos preparados com ervas e enrolados na
palha ou queimados diretamente.
Pedras:
As Pedras pretas, tais como: Ágata Preta,
Turmalina Preta, Vassoura da Bruxa, Ônix, Quartzo Fumê, Mica Preta. (Fonte:
Angélica Lisanty, “Os Cristais e os Orixás”, Madras Editora.)
Flores:
Cravo vermelho, antúrio vermelho.
Firmeza para a Esquerda de cada Orixá― FONTE: Adriano
Camargo:
1-Esquerda de Oxalá: Alho, cebola, pimenta do reino branca,
cachaça branca, vinagre branco, açoita cavalo (mutamba), pimenta do reino.
2-De Oyá-Tempo: Alho inteiro, pedras de brita, fatias de
bambu seco, cachaça branca e vinagre branco.
3-De Oxum: Buchinha do norte.
4-De Oxumarê: Guizos de cascavel, pele e dentes de cobra,
semente de olho de macaco, olho de cabra.
5- De Oxóssi: Sete tipos de raízes, cachaça amarela.
6-De Obá: Sete tipos de raízes secas, conhaque de gengibre.
7-De Xangô: Pedras escuras.
8-De Egunitá: Carvão, pimentas de todo tipo, tijolos de
forno antigo, peças de caldeiraria.
9-De Ogum: Olho de cabra, olho de boi, metais.
10- De Iansã: Olho de boi, valeriana, folhas secas no tempo,
pimentas.
11- De Obaluayê: Terra de campo santo regada com água de
fonte (retiradas de forma forma ritualística, com oferendas), olho de boi,
olho de cabra, búzios escuros, vinagre tinto, conhaque.
12-De Mãe Nanã: Tesouras velhas, agulhas antigas, olho de
cabra, olho de boi.
13-De Mãe Iemanjá: Areia da praia (escura), búzios escuros,
valeriana, carapiá.
14-De Pai Omolu: Dandá, terra preta, raiz de garra do diabo,
sete pedaços de galhos pequenos de uma árvore morta, farinha de osso, carvão.
Oferenda ritual:
1- Oferenda para o Orixá Exu • Toalha ou pano preto e
vermelho; • velas pretas e vermelhas; • fitas pretas e vermelhas; • linhas
pretas e vermelhas; • pembas pretas e vermelhas; • flores: cravo
vermelho; • frutas: manga, mamão, limão; • bebidas: aguardente de cana-de-açúcar,
uísque, conhaque; • comidas: farofa com carne bovina ou com miúdos de frango,
bifes de carne ou de fígado bovino fritos em azeite de dendê e com cebolas,
bifes de carne ou de fígado bovino temperado com azeite de dendê e pimenta
ardida. (Fonte: “Rituais Umbandistas - Oferendas, Firmezas e Assentamentos”,
Rubens Saraceni, Editora Madras.)
2-Para várias finalidades (limpeza, proteção, vitalidade
etc.): Frutas variadas; enfeitar com pétalas de rosas vermelhas, cravos
vermelhos e com ervas dos Exus. Cercar com sete copos de água e sete de pinga,
intercalados. Na frente, firmar uma vela bicolor preta e vermelha. Acender um
charuto e baforar três vezes sobre os elementos, saudando Exu, fazendo seus
pedidos e agradecendo. Colocar o charuto em pé, na frente ou à esquerda da
vela.
Cozinha ritualística:
1- Padês (ou apadês):
Padê de dendê― Meio kg de farinha de mandioca grossa
e crua; 250 ml de dendê. Misturar com a mão esquerda, agradecendo e/ou fazendo
seus pedidos a Exu.
Padê para soluções rápidas― Meio kg de farinha de
mandioca grossa crua; 250 ml de dendê; 1 cebola em rodelas; 21 pimentas dedo de
moça. Refogar ligeiramente a cebola e as pimentas no dendê aquecido. Juntar a
farinha e misturar.
Padê de pinga― Misturar meio kg de farinha de
mandioca grossa e crua com 1 garrafa de pinga, manipulando com a mão esquerda.
Padê de carvão― Dois pedaços de carvão; meio kg de
farinha de mandioca grossa e crua. Amassar bem o carvão, até virar pó.
Misturar com a farinha e colocar no alguidar, manipulando com a mão esquerda.
Padê de água― Misturar 250 g de farinha de mandioca
grossa e crua com água o suficiente para formar uma massa consistente.
Manipular com a mão esquerda. Colocar a água aos poucos. Faz uma limpeza
profunda.
Padê de mel― Misturar, usando a mão esquerda, meio kg
de farinha de mandioca grossa e crua com mel o suficiente para virar uma massa.
Cercar com folhas de louro e 7 moedas. (Para pedidos ligados a prosperidade.)
Padê de carne de porco― Um kg de carne de porco; 1
cebola roxa em rodelas; pimenta; dendê. Aquecer o dendê numa panela e refogar
ligeiramente a carne, a cebola e a pimenta. Colocar a carne no alguidar e sobre
ela despejar o dendê ainda bem quente, com a cebola e a pimenta.
Padê de caldo de cana― Misturar, com a mão esquerda,
meio kg de farinha de mandioca grossa e crua com 1 copo de caldo de cana e 1
copo de pinga.
Padê de coração de frango― Refogar no dendê quente 1
cebola em rodelas, pimenta vermelha e meio kg de corações de frango. Juntar
meio kg de farinha de mandioca grossa e crua. Misturar e fazer a oferenda.
Observação: No geral, os Padês (farofas) são
manipulados com a mão esquerda, no sentido anti-horário, e colocados em
alguidar (ou prato de papelão) forrado com folhas de mamona previamente lavadas
e depois untadas com dendê.
Quando se está autorizado pelos Guias a fazer a oferenda
(pedido de auxílio) por outra pessoa, então se manipula com a mão direita e no
sentido horário (para atrair a proteção em favor daquele por quem se pede), mas
sempre nos casos especificamente indicados e autorizados.
2- Oferendas para prosperidade: a- Uma abóbora
amarela pequena, cozida e cortada ao meio. Fazer uma farofa com farinha de
mandioca crua e mel, e sobre ela colocar a abóbora. Cercar com ervas; b-
Refogar no dendê, com cebola em rodelas, um pouco de milho verde cozido. Juntar
farinha de mandioca crua o suficiente para formar a farofa; c- Quirela de
milho: Lavar a quirela e deixar de molho por algumas horas. Escorrer a água.
Cozinhar ligeiramente a quirela, pingando água aos poucos. Juntar pimenta
picada, dendê e cebola em rodelas. Misturar e servir em alguidar ou em prato de
papelão.
Texto: QUEM É ORIXÁ EXU? - Por Alexandre Cumino
A origem cultural do Orixá Exu está na África de cultura
Nagô-yorubá, sem, no entanto, dispensar a influência da cultura Gêge-fon de
Elegbara.
Esta cultura africana é muito diferente da cultura européia
de base judaico-cristã, os limites entre sagrado e profano ocupam espaço
diferente e a realidade é compreendida numa dimensão menos racionalizadora de
nossos sentidos. Todo o mundo ocidental bebeu na influência do iluminismo,
positivismo e racionalismo. Quando falamos em cultura africana falamos de um
povo que tem a consciência de que a razão não dá conta de explicar o todo que
está à nossa volta; dentro, fora e além do ser em suas realidades imanentes e
transcendentes.
Exu ironiza a vida, ri da desgraça, dança sobre o fogo e
domina a ilusão, principalmente aquela que nos envolve pelo ego, materialismo e
vaidade. Ele domina todos os sentidos do apego, conhece nossas vaidades e
vícios. Talvez por isso seja considerado o mais humano dos orixás e passa a ser
o mais “temido”, pois quando exu se mostra “igual a nós” ele nos assusta,
simplesmente porque quer nos mostrar a dualidade humana, que hora nos leva para
a luz e hora nos puxa para as trevas. Céu e Inferno, tudo ao mesmo tempo em
nossa mente, o maior juiz. Exu joga e brinca com todos estes valores e por isso
ele assusta uns e faz temer a outros; no entanto é tão Orixá quanto Oxalá e as
lendas mostram o quanto ele pode ser amigo, fiel, querido e até servo (mas não
serviçal), pois é também senhor da magia, dos caminhos, das encruzilhadas, das
portas e passagens, é quem permite a comunicação. E também é bem como mal,
tanto amigo quanto inimigo, luz e trevas, Céu e Inferno.
A dualidade do Orixá Exu é como espelho refletindo a
dualidade humana, sempre bom para quem é bom, mau para quem é mau, inimigo de
quem é inimigo do sagrado.
Orixá Exu é o primeiro a ser saudado, logo quem não saúda
Orixá Exu não está saudando ninguém; numa cultura em que a religião é
exclusivamente de Orixá, quem não está com Orixá Exu está desamparado, quem não
tem respeito por Orixá Exu não tem respeito por ninguém, quem não reverencia
Orixá Exu não reverencia o Sagrado e aí chegamos ao conceito de que: “se você
não saúda ou não oferenda Exu ele te prejudica”. É uma forma de fazer
compreender que Orixá Exu é Primordial, Essencial, Principal, Primeiro e quem
não está com Orixá Exu está sozinho e sozinho está por conta própria.
Porque Orixá Exu é “inimigo” do “inimigo” da fé (e não do
homem), Exu é “contrário” daquele que está “contrario” à tradição (e não da
vaidade), pois quem vai contra todos os valores milenares de sua tradição passa
a ser uma ameaça ao que gerações e mais gerações lutaram para preservar. Aqui
Orixá Exu atua como “instinto de preservação”, atendendo ao clamor de vozes
ancestrais por proteção de sua cultura, povo e valores. Força, poder, vigor e
fertilidade são alguns dos atributos que se vê e busca em Orixá Exu, mas o que
isso representa em sua origem cultural e para as outras culturas que hoje
reinterpretam estes mesmos atributos em outro contexto.
Evocado e invocado pelos sentimentos mais nobres de uma
tradição que busca sobreviver, Orixá Exu renova-se e recicla-se nos encontros e
desencontros culturais de um País Miscigenado, de uma cultura heterogênea, na
qual igual é ser diferente. Negro, Branco e Vermelho são as cores de base deste
povo; Preto, Vermelho e Branco são as cores que Orixá Exu assumiu para si.
Quem nasce no seio da cultura de exu (nagô-yorubá) e o
respeita, demonstra respeito por seus ancestrais e por todos os valores da
terra. Exu é guardião desta terra, destes valores, é o Primeiro ser a vir ao
mundo, é o ancestral de todos os ancestrais; desrespeito aos ancestrais é
desrespeito a exu e daí é que vêm as lendas e conceitos de que Exu pune, Exu é
vingativo, Exu é perverso, Exu é o mal, tanto quanto o bem... Pois a sua
atuação para o bem ou para o mal muda segundo o ponto de vista de quem o
observa. Para alguns interessa ter em seu panteão uma divindade que assuste e
um mistério para seus interesses mesquinhos, que é na verdade apenas um espelho
deles mesmos. Um dia entenderão que todo o mal que viam em exu estava neles mesmos.
Ainda assim muitos crêem que exu pode ser bom e ser mau ao mesmo tempo, ser
neutro e manipulável.
Interprete Orixá Exu à Luz de Oxalá, ao Amor de Oxum, à Lei
de Ogum, com a Justiça de Xangô, nos Seios de Iemanjá, sob o Olhar de Egunitá.
Como irmão de Oxóssi, melhor amigo de Orumilá-Ifá, caminhando com Omulu,
curando com Obaluayê, deitado no colo de Nanã Buroquê. Exu que ouve Obá, dança
com Iansã e troca receitas com Ossaim. Orixá Exu, Amor de Orixá Pombagira e
ídolo de Orixá Exu Mirim. Orixá Exu nos mostra que todos são mistérios de um
Mistério Maior. Todos os Orixás são partes de um Todo chamado Olorum. Nenhum é
mais ou menos, todos têm seu grau de importância e função na criação, todos têm
uma origem comum.
Exu é Orixá e Orixá é Sempre uma Divindade que Representa o
Sagrado Transcendente.
Por isso não é tão fácil ler sobre exu e saber
interpretá-lo, além das palavras, compreender nas entrelinhas e estar acima de
qualquer adjetivo negativo que lhe seja atribuído.
Afinal...
Exu se diverte com tudo isso,
Exu ri da ignorância humana,
Exu está acima do medo,
Exu está acima da vaidade,
Exu está acima de nossas visões humanas
Exu mergulha em nossas paixões
Exu sobe ao Céu e desce ao Inferno
Da Luz às Trevas e das Trevas à Luz
Quem pode com Exu?
Quem pode entender Exu?
Quem já esteve na Luz e nas Trevas e saiu ileso?
Não temos a menor idéia do que seja Luz Absoluta ou Trevas
Absoluta,
Atribuímos conceitos humanos e limitados ao que consideramos
luz e trevas.
Racionalizamos e consideramos relativos o bem e o mal
segundo nosso interesse.
Exu está além de nossa compreensão e sabe que Ele mesmo é um
mistério,
Exu transcende o humano e ao mesmo tempo se mostra humano,
Exu confunde esclarecendo e esclarece confundindo.
Ele brinca com o Ego e a Vaidade que Ele mesmo não tem.
Nós humanizamos Exu para torná-lo compreensível e Exu
ao se fazer compreensível mostra que somos patéticos,
Somos medíocres ao querer medir, pesar e rotular o
transcendente.
Exu é um destes mistérios que nos coloca de frente com
nossas paixões,
Nossos desejos, nossos apegos, nossos valores, como num
espelho.
Portanto, quando falar de Exu, preste bem atenção: estará
falando de si mesmo.
Pessoas Infelizes consideram Exu o mal,
Pessoas Medianas o consideram neutro,
Pessoas Despertas sabem que Exu é Luz.
Atribua valores de Luz ao Orixá Exu e ele se mostrará Luz a
Você,
Aceite que Ele é um Mistério Sagrado do Divino Olorum e Ele
se mostrará Divino e Sagrado a você.
Exu assume e adota muitos dos valores que nós lhe
atribuímos. Porque a dualidade de Exu não é nada mais que o espelho da
dualidade humana.
Exu é Vazio e cada um de nós escolhe com quais valores
preenche este Vazio.
Bem... Espero que este texto sirva de introdução para a
leitura de muitos outros textos aos quais a leitura e interpretação muitas
vezes se faz muito humana.
Lendas e Mitos que devem ser interpretados,
mistérios que ocultam e revelam ao mesmo tempo. A quem tem olhos para ver o
Sagrado, Ele se revela. A quem não tem, Ele se oculta, em seus medos e fobias,
afinal iniciado é quem venceu a morte e seus próprios medos e, ao vencê-los,
faz uma outra leitura do mundo. E como diria um certo oráculo: “Conhece-te a ti
mesmo e conhecerás os Deuses e o Universo”; podemos dizer: “Conhece-te a ti
mesmo, ser humano, e conhecerás Orixá Exu, o mais humano dos Orixás”.
Exu Mirim na Umbanda por Rubens Saraceni
Escrever sobre Exu Mirim se faz necessário nesse momento porque, desde que eu psicografei o livro Lendas da Criação – A Saga dos Orixás, sua importância na Criação e na Umbanda mostraram-se maior do que se imaginava. Não temos escritos abundantes à nossa disposição que nos ensinem sobre este Orixá ou que o fundamente com o Mistério Religioso.Essa falta de textos esclarecedores e fundamentais das suas manifestações religiosas nesse primeiro século de existência da Umbanda deixou Exu Mirim à própria sorte, ou seja, restrito a vagos comentários sobre seus manifestadores que pouco ou nada esclareceram sobre eles e a que vieram! Inclusive, por terem sido descritos como “espíritos de moleques de rua”, cada um incorporava com os típicos procedimentos de crianças mal-educadas, encrenqueiras, bocudas, chulas, etc. Foram tantos os disparates cometidos que é melhor esquecê-los e reconstruir todo um novo conhecimento sobre o Orixá Exu Mirim, antes que ele deixe de ser incorporado e relegado ao esquecimento, como já foi feito com muitos dos Orixás que, por falta de informações corretas e fundamentadoras, deixaram de ser cultuados aqui no Brasil.
Nas Lendas da Criação, Exu Mirim assumiu uma função e importância que antes nos eram desconhecidas. A função é a de fazer regredir todos os espíritos que atentam contra os princípios da vida e contra a paz e a harmonia entre os seres. Sem Exu Mirim nada pode ser feito na Criação sem sua concordância. Com Exu, dizia-se que “sem ele não se faz nada”. Já com Exu Mirim, “sem ele nem fazer nada é possível”. Vamos por partes para entendermos sua importância e fundamentá-lo, justificando sua presença na Umbanda.
1) Cada Orixá é um dos estados da Criação. Um é a Fé, outro é a Lei, outro é o Amor, e assim por diante, independente de suas interpretações religiosas.
2) Por serem estados, são indispensáveis, insubstituíveis e imprescindíveis à harmonia e ao equilíbrio do Todo. O estado da matéria considerado “frio” só é possível por causa da existência do estado “quente” e ambos, na escala Celsius, indicam os dois estados das temperaturas. Sem um não seria possível dizer se algo está frio ou quente; se algo é doce ou amargo, se algo é bom ou ruim, etc. É a esse tipo de “estado” que nos referimos e não a um território geográfico, certo?
3) Muitos são os estados da Criação e cada um é regido por um Orixá e é guardado e mantido por todos os outros, pois se um desaparecer (recolher-se em Deus), tal como numa escada, ficará faltando um degrau, e tal como numa escala de valores, estará faltando um grau que separe o seu anterior do seu posterior.
4) Quando a Umbanda iniciou-se no plano material, logo surgiu uma linha espiritual ocupada por espíritos infantis amáveis, bonzinhos, humildes, respeitosos e que chamavam todos(as) de titios e titias ao se dirigirem às pessoas ou aos Orixás e Guias espirituais. Também chamavam os Pretos (as) Velhos (as) de vovô e de vovó. Até aí tudo bem!
5) Mas logo começaram a “baixar” uns espíritos infantis briguentos, encrenqueiros, mal-educados, intrometidos, chulos e que dirigiam -se às pessoas com desrespeito chamando-os disso e daquilo, tais como: seu pu.., sua p…, seu v…., seu isso e sua aquilo, certo? E quando inquiridos, se apresentavam como “Exus” mirins, os Exus infantis da Umbanda numa equivalência com um Exu infantil ou um Erê da esquerda existente no Candomblé de raiz nigeriana.
6) Exu Mirim assumiu o arquétipo que foi construído para ele: o de menino mal! E tudo ficou por aí com ninguém se questionando sobre tão controvertida entidade incorporadora em seus médiuns, pois se dizia que todo médium tem na sua esquerda um Exu Mirim, além de um e Exu e uma Pombagira.
7) De meninos mal-educados, como tudo que “começa mal” tende a piorar, eis que as incorporações de entidades Exus Mirins começaram a ser proibidas nos Centros de Umbanda devido à vazão de desvios íntimos dos médiuns que eles extravasavam quando incorporavam nos seus.
8) De mal vistos para pior, essa linha de trabalhos espirituais, (onde cada médium tem o seu Exu Mirim), quase desapareceu e só restaram as incorporações e os atendimentos de um ou outro Exu Mirim “muito bom” mesmo no ato de ajudar pessoas.
9) Então ficou assim decidido, mais ou menos, por muitos:
a) Exu Mirim existe, é mal educado, incontrolável e de difícil doutrinação.
b) Vamos deixar Exu Mirim quieto e vamos trabalhar só com linhas espirituais doutrináveis e possíveis de serem controladas dentro de limites aceitáveis.
10) Exu Mirim praticamente desapareceu das manifestações umbandistas porque suas incorporações fugiam do controle dos dirigentes e seus gestos e palavrões envergonhavam a todos.
11) Como é característica humana negar tudo o que não pode controlar e ocultar tudo o que “envergonha”, o mesmo foi feito com Exu Mirim, que existe, mas não é recomendável que incorpore em seus médiuns. Certo? Errado, dizemos nós, porque muitos médiuns já ajudaram a muitas pessoas com seus Exus mirins doutrinadíssimos e nem um pouco influenciados pela personalidade “oculta” de quem os incorporavam. Todos se adaptam a regras comportamentais se seus aplicadores forem rigorosos tanto com os médiuns quanto com quem incorporar neles.
O melhor exemplo começa com as incorporações comportadas de quem dirige os trabalhos espirituais. E uma boa orientação sobre as entidades ajuda muito porque o que os médiuns internalizarem sobre elas será o regularizador das entidades.
Agora se, por acaso, o dirigente adota um comportamento discutível, aí seus médiuns o seguirão intuitivamente, pois o tomam como exemplo a ser seguido. Em inúmeras observações, vimos os médiuns repetindo seus dirigentes e, inclusive, com as incorporações e danças dos Guias incorporados neles. Essa assimilação natural ou intuitiva é um indicador de que o exemplo que vem “de cima” ainda é um dos melhores reguladores comportamentais.
Agora, quando o dirigente incorpora seu Exu Mirim e este, por ser do “chefe”, faz micagens, caretas, gestos obscenos, atira coisas nas pessoas, xinga-as e fala palavrões, aí tudo se degenera e seus médiuns procederão da mesma forma porque, em suas mentes e inconscientes é assim que seus Exus Mirins devem comportar-se quando incorporados.
Essa foi uma das razões para o ostracismo e que foi relegada a linha dos Exus Mirins. E isso sem falarmos em supostos Exus Mirins que quando incorporavam ou ainda incorporam por aí afora, pegam ou lhe são dados saquinhos de papel que ficam cheirando, como se fossem as infelizes crianças de rua viciadas em cheira “cola de sapateiro”. Certos comportamentos devemos creditar ao arquétipo errôneo construído por pessoas desinformadas sobre essa linha de trabalho espiritual da Umbanda.
A verdade é:
1) Não são espíritos humanos, em hipótese alguma.
2) Exus Mirins são seres encantados da natureza provenientes da sétima dimensão à esquerda da que nós vivemos.
3) A irreverência ou má educação comportamental não é típico deles na dimensão onde vivem.
4) São naturalmente irrequietos e curiosos, mas nunca intrometidos ou desrespeitadores.
5) Por um processo osmótico espiritual, refletem o inconsciente de seus médiuns, tal como acontece com Exu e Pombagira. Logo, são nossos refletores naturais.
6) Gostam de beber as bebidas mais agradáveis ao paladar dos seus médiuns, sejam elas alcoólicas ou não.
7) Apreciam frutas ácidas e doces “duros”, tais como: rapadura, pé de moleque, quebra queixo, cocadas secas e balas “ardidas” (de menta ou hortelã).
8) Se bem doutrinados prestam inestimáveis trabalhos de auxílio aos frequentadores dos Centros de Umbanda.
9) Não aprovam ser invocados e oferendados em trabalhos de demandas e magias negativas contra pessoas.
10) Toda vez que seus médiuns os ativam para prejudicar os seus desafetos, seus Exus Mirins se enfraquecem automaticamente. Já aconteceram inúmeros casos de médiuns que ficaram sem seus verdadeiros Exus Mirins porque os usaram tanto contra seus desafetos que eles ficaram tão fracos que foram aprisionados e kiumbas oportunistas tomaram seus lugares junto aos seus médiuns, passando daí em diante a criar problemas para suas vítimas que ainda acreditavam que estavam incorporando seus verdadeiros Exus Mirins.
11) Eles raramente pedem seus assentamentos ou firmezas permanentes e preferem ser oferendados periodicamente na natureza, tal como as crianças da direita.
12) Se bem doutrinados e colocados a serviço dos frequentadores dos Centros umbandistas, realizam um trabalho caritativo único e insubstituível.
Vamos resgatar os Exus Mirins da Umbanda e libertá-los do falso arquétipo que mentes e consciências distorcidas criaram para eles?
Pai Rubens Saraceni além do livro "Lendas da Criação" publicou um livro relacionado ao mistério do Orixá Exu Mirim "Orixa Exu Mirim Fundamentacao do Misterio na Umbanda"
Guardiã "Pombagiras" na Umbanda:
Pombagira
Na Umbanda, a Orixá Pombagira está assentada no Trono do Estímulo, do Desejo e também se manifesta como entidade espiritual incorporada em suas médiuns. Com o passar do tempo, a Pombagira atingiu um grau análogo ao de Exu e muitos passaram a chamá-la de Exu Feminino.
Mas a Pombagira foi logo no início, desde suas primeiras incorporações, construindo um arquétipo forte, poderoso e subjugador do machismo. O arquétipo da mulher livre das convenções sociais, liberal, provocante e insinuante vai além da própria figura, nos ensinando a força e firmeza de propósitos, do desejo resoluto pela vida e por nossos objetivos, que devem ser buscados sempre com entusiasmo e energia.E a todos Ela ouve com compreensão e a ninguém nega seus conselhos e sua ajuda num campo que domina como ninguém mais é capaz. Sua desenvoltura e seu poder fascinam até os mais introvertidos que, diante dela, se abrem e confessam suas necessidades. Pombagira é um dos mistérios do nosso Divino Criador que rege sobre asexualidade feminina.
Segundo Rubens Saraceni:
“Amem-na e respeitem-na os que entendem que o arquétipo é liberador da feminilidade tão reprimida na nossa sociedade patriarcal onde a mulher [ainda] é vista e tida para a cama e a mesa.”
A espiritualidade superior que arquitetou a Umbanda sinalizou a todos que não estava fechada para ninguém e que, tal como Cristo havia feito, também acolheria as mulheres e não encobriria com uma suposta religiosidade a hipocrisia das pessoas que, “por baixo dos panos”, o que gostam mesmo é de tudo o que a Pombagira representa com seu poderoso arquétipo.
Este arquétipo forte e poderoso já pôs por terra muito falso moralismo, libertando os seres da hipocrisia reinante e mostrando que a vontade é mãe da realização. Na Umbanda, será sempre a orientadora, aconselhadora e motivadora da vida, de suas belezas e delícias, além, é claro, da imensa vontade de viver!
Há muitas pessoas que as associam com prostitutas, ou simplesmente, mulheres que gostam de se expor aos homens e sedentas por sexo. As distorções e preconceitos são características dos seres humanos quando eles não entendem corretamente algo, querendo trazer ou materializar conceitos abstratos, distorcendo-os. Elas são que espíritos desencarnados, que como os Exus, a maioria viveram na Terra e hoje, por afinidade fluídica, militam como mais uma corrente de trabalho portentosa dentro da Umbanda.
Na linha de trabalho na Umbanda, há uma Linha de Entidades de Trabalho que se identificam como Pomba Gira (ou Pombagira) e que atuam na chamada Linha de Esquerda. São espíritos humanos que tiveram várias encarnações e que, com o tempo, obtiveram a permissão da Lei Maior para se assentarem à Esquerda dos Orixás e trabalharem em favor da nossa evolução.
Dentro da Umbanda, o nome Pomba Gira pode ser traduzido como: mensageira dos caminhos à Esquerda. “Pomba” é um pássaro que já foi usado como correio (pombos-correios); e “gira” expressa a idéia de movimento, caminhada, deslocamento etc. Como essas Entidades atuam na Esquerda, vem o significado de mensageira dos caminhos à Esquerda.
Na Umbanda, a Pombagira é cultuada como Entidade de Trabalho, como Espírito que trabalha a serviço da Luz e que, portanto, só pode praticar o Bem. Como todas as Entidades, a atuação de Pombagira é sustentada por um Orixá. Este Orixá Sustentador manifesta um Mistério Divino e é chamado de Orixá Pombagira.
O Trono que corresponde ao Mistério Pombagira é denominado Trono do Estímulo ou do Desejo, pois esta é a Energia que Pombagira nos transmite, e com muita propriedade: o despertar do estímulo, do gosto pela vida, o “start” para levarmos avante os nossos esforços pela conquista de uma vida melhor, mais saudável e equilibrada, em todos os setores.
Regência principal: Orixá Pombagira
Campo de atuação: Estímulo, Desejo pela vida
Cores: Vermelho ou bicolor vermelho/preto
Dia da semana: Segunda-feira
Fonte Umbandaeucurto
Nenhum comentário:
Postar um comentário